Um dia acabamos mesmo por ir embora, metemos tudo dentro de uma mala, mas sem arrumar nada, pra não recordar o que dentro dela se encontra. Deitamos fora tudo o que nos vem há mão em primeiro plano e depois o que fica, acabamos por fazer de tudo pra caber numa mala minúscula, que quase que é preciso sentar-nos em cima da mesma pra a poder fechar, não fica nem um espacinho para mais nada, fica as ultimas lembranças, as ultimas lágrimas, as cartas nunca enviadas, as fotos tiradas, as conversas, as noites, as insónias, os gritos que tapamos com almofada, a saudade que sentiríamos, os medos que vivíamos, as inseguranças que surgiam, a inveja que nos rodeava, as discussões que nos envolvíamos, as mensagens que ficaram por enviar, as declarações que deveríamos ter dito, os temas que devíamos ter falado e ficaram no esquecimento, os sorrisos que trocamos varias vezes, as brincadeiras, o sentimento e todo o prazer que existia. Fica tudo por ali, depois de tanto tempo, finalmente a temos que fechar, vamos acumulando tudo, hoje uma lágrima, amanha um sorriso e depois lá vem uma declaração, e deixamos a mala ir enchendo de coisas boas, más de tudo o que é, será e foi nosso, até ao dia que um de nós a fecha e ela acaba por voltar pra a sua casa, pra as suas teias, pra o seu esquecimento, e de vez em quando, lá damos nós uma passada, quando achamos que as feridas já passaram, quando temos um bocadinho de saudade, quando a necessidade de recordar de alguma coisa nos chama, quando vimos alguém que nos fez lembrar o que tínhamos, quando arrumamos algo e ficou de fora um sentimento que não deveria ter ficado, e lá temos nós que voltar abrir, fazer um esforço pra não deitar nem mais uma lágrima, porque se bem te recordas não cabe mais nada. Não é um adeus, nem pra lá caminha, só que hoje decidi fazer uma nova mala, e fechar antiga, decidi comprar uma nova, e mais bonita, decidi que esta já esta velha, e não cabe mais nada, achei que seria bom fecha-la e com ela levar tudo o que era meu teu, e de tudo o que foi nosso. Vamos ter que encher uma nova, se conseguires dar conta do recado desta também, mas não quero lágrimas, não quero despedidas, não quero promessas falhadas nem cartas nunca enviadas, não quero conversas a meio, nem discussões pelo meio, não quero segredos, nem inseguranças, não quero ouvir falar do medo, nem do Passado. Esta mala, não poderá ir pra o mesmo sótão, nem saberá o que isso é, não quer aranhas nela, nem pó instalado, não quero que acabe por ser preta de lixo. Quero muita cor, quero uma vida, não quero altos e baixos, não quero e se voltar, optarei por não te crer a ti.
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Incerta

- Anna
- Vivi iludida durante tanto tempo, julgando o que amor era feito de grandes arrebatamentos! Até o será, certamente, para os espíritos apaixonados. Mas tem de haver muito mais. Momentos perdidos no tempo não enchem os dias(..)Apaixonamo-nos por aquilo que não conhecemos e amamos aquilo que conhecemos(..)Quando duas pessoas foram tão próximas como nós e viveram essa proximidade de uma maneira única, aquilo a que tão raramente podemos chamar intimidade, há marcas que ficam para sempre na nossa memoria, sendo por isso inútil, e até ingénuo, tentar apaga-las… Tu vives em mim por tudo o que representaste de bom e que foste de mau.
está mesmo lindo (:
ResponderEliminartu é que escreves bem não eu $:
Sabes que mais? Raisfoda a vida, sabes...
ResponderEliminarAinda me questiono o que é que andamos aqui a fazer... enfim.
Beijo
(escreves muito bem)